PROFESSORES COMBATEM “CENSURA LITERÁRIA” DA SEDUC/RO



Por Val Barreto.

Os professores de Rondônia se manifestaram criticamente contra a tentativa de censura da Secretaria de Educação de Rondônia (SEDUC) após enviar um documento determinando o recolhimento nas escolas estaduais de 43 livros, entre os quais clássicos como "Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis, "Macunaíma", de Mário de Andrade, e "Os sertões", de Euclides da Cunha.

A ordem não chegou a ser concluída, diz o governo, porém, os professores de Porto Velho e do Estado de Rondônia, através das redes sociais expuseram seu total repúdio ao que ficou nomeado como “censura literária” e que não será aceita de forma alguma, esta ou qualquer ação de censura, ainda que mascarada de “boas intenções” ou apontada como mais um erro dessa gestão.

Vivemos momentos sombrios, de modo que se não estivermos bem atentos, perderemos muito mais, afinal, a ditadura branda que circunda o país, parece estar querendo estabelecer-se em Rondônia, porém não será introduzida, tão facilmente, enquanto houverem professores que lutam pelo básico: a literatura livre, como um direito que não pode ser negado, sob  nenhuma circunstancia.

COMO ACONTECEU:

O memorando 4/2020, assinado pelo secretário de Educação, Suamy Vivecananda Lacerda de Abreu, foi endereçado às coordenadorias regionais de educação de Rondônia. O argumento, no documento, era que os livros apresentavam "conteúdos inadequados às crianças e adolescentes".

O secretário confirmou a existência do documento – revelou que tratar-se de um "rascunho" feito por "técnicos" que não chegou a ser expedido. Afirmou ainda não concordar com o teor do memorando e que os livros listados não serão recolhidos. O trabalho dos técnicos, segundo o secretário, começou porque havia uma denúncia de que os livros continham palavrões:

"[O departamento técnico] Fez uma checagem que não é conclusiva, porque a conclusão vai encerrar quando eles [técnicos] me apresentarem alguma coisa, e, pelo que eu estou vendo, já não querem mais apresentar. Mas, assim, são clássicos da literatura. ‘Macunaíma’ é filme e o escambau, entendeu? Não seria a Seduc de Rondônia que iria se invocar com um livro desse", afirmou.

O ofício lista ainda 19 obras de Rubem Fonseca, oito de Carlos Heitor Cony e três de Nelson Rodrigues. Há ainda uma observação: "Todos os livros de Rubem Alves devem ser recolhidos".

Dois clássicos da literatura internacional também aparecem: Franz Kafka, com "O castelo", e Edgar Allan Poe, com "Contos de terror, de mistério e de morte". O documento e a relação de obras (veja abaixo) repercutiram em redes sociais, com a divulgação de imagens dos ofícios. O documento, que está em sistema interno da Secretaria de Educação de Rondônia, passou a ser listado como sigiloso:


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OS PROFESSORES  QUE COMBATERAM A CENSURA LITERÁRIA EM RONDÔNIA:

A tentativa de censura não foi bem aceita pelos professores rondonienses, e evidencia, o compromisso dos mesmos pela “liberdade de ler”, soa ridículo reforçar esse direito e aceitar que hoje, estamos passando por isso, mas é a verdade. A repercussão nas redes sociais merece destaque, confiram algumas manifestações de repúdio de professores de Rondônia:

PROFESSOR VINICIUS MIGUEL:

Um protagonista que merece destaque no combate a censura literária em Rondônia é o professor da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), Vinicius Miguel, que além de professor é advogado, e diante das informações desencontradas, solicitou dados, entre eles, cópia do memorando, dos autos eletrônicos, quem expediu, decretou e inclusive as motivações para o sigilo na documentação. Confira: 

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PROFESSOR XAVIER GOMES:

Xavier, que é professor estadual e jornalista, não poupou sua indignação e atribuiu a decisão de censura das obras da Literatura como mais uma prova da incompetência do secretário de educação e do Governador:

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PROFESSOR ALEX PALITOT:

O Professor Aleks Palitot, que também é vereador de Porto Velho, lamentou a tentativa de censurar obras tão importantes da nossa literatura: 


PROFESSORA VAL BARRETO:

Apesar de ficar sem palavras, quanto ao ocorrido, eu também não poderia ficar calada, diante de mais um “erro” da SEDUC que prejudica a educação de Porto Velho e um direito, que sequer devia estar em pauta, em pleno século XXI: 

  (Clique na imagem, para ampliar)



Estejamos atentos para “erros” como esses, afinal censura literária sempre existiu, é realidade e é fato, mas não significa que NÃO devamos combatê-la, num ou noutro momento. Muitos outros professores se manifestaram e expor tudo aqui, não é possível, mas aos resistentes na luta pela liberdade, a educação, os alunos, as escolas, agradecem...


Fontes: G1 - Vinicius Miguel - Vinicius Canova.

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