PROFESSORAS: 80% dos docentes da educação básica são mulheres.


 

Por Val Barreto ¹

 

Basta atravessar o portão de qualquer escola para notar uma realidade explícita: as mulheres são, em maioria massiva, responsáveis pela educação de nossas crianças. A percepção foi confirmada no Censo Escolar 2018, divulgado em janeiro pelo Ministério da Educação, que apontou que cerca de 80% dos 2,2 milhões de docentes da educação básica brasileira são do sexo feminino.

 

Desse total, metade tem 40 anos de idade ou mais. Os números levantam um debate a respeito da questão de gênero na pedagogia – reflexão bastante propícia para a celebração do Dia Internacional da Mulher, nesta quinta, 8 de março.

 

Para Cristina Nogueira Barelli, coordenadora do curso de Pedagogia do Instituto Singularidades, focado na formação do educador, este é mais um indício de como a sociedade atribui à mulher a responsabilidade pelos cuidados com a criança, em uma visão associada à maternidade.

 

“Existe uma tentativa de desconstrução dessa ideia, mas como é um fato social, demora um tempo para acontecer. Aqui na faculdade, tenho observado um aumento na procura de homens pelo curso de pedagogia”, diz a coordenadora.

 

Atualmente, o Instituto Singularidades conta com cerca de 8% de estudantes do sexo masculino. Há dez anos, o percentual chegava apenas a 2%. Segundo Cristina, é importante que se entenda que a profissão não é essencialmente feminina, mas deve ser ocupada por quem tem interesse e perfil para esse tipo de trabalho.

 

“No Dia Internacional da Mulher, também acho que é importante fazermos um contraponto e dizer que a mulher deve expandir seus horizontes profissionais e não enxergar a profissão de professora como uma possibilidade, apenas por ser do sexo feminino”, afirma.

 

No momento de escolher o curso, para a coordenadora, as mulheres devem pensar no perfil, nas características e nos interesses para escolher uma profissão que a agrade, independente dos rótulos de gênero.

 

Diversidade também no Ensino Superior

 

De acordo com o Censo da Educação Superior 2016, tanto na rede privada quanto na rede pública, entre os 397 mil docentes, as mulheres representam cerca de 45%.

 

A professora Conceição Aparecida Pereira Barbosa, do curso de Pedagogia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, afirma que, embora a sutileza feminina seja positiva para a pedagogia, é importante que as crianças tenham contato com a diversidade, criando visões de mundo diferentes.

 

“A presença de homens vem aumentando, principalmente em outras áreas, como psicologia, mas ainda sinto um domínio feminino muito grande na pedagogia”, diz. O Ensino Médio e Superior, no entanto, é mais dominado por docentes do sexo masculino, na percepção da professora.

 

“Nessa área, as mulheres começam a perder a cota, por conta do próprio mercado de trabalho, que favorece mais aos homens, nos salários e cargos. É uma desigualdade que ainda existe”.

 

Se por um lado Conceição aponta para a importância da presença feminina na educação básica justamente para inspirar e empoderar as meninas, ela lamenta as restrições de oportunidades, conforme o grau aumenta.

 

“A mulher ainda é responsável pela casa e pelos filhos, o que dificulta a ascensão no mercado de trabalho. O mesmo acontece nos cargos de direção, que muitas vezes representam um estereótipo machista, como se as mulheres não tivessem competência para a gestão, o que é altamente questionável.”

Envelhecimento

Sobre metade dos professores ter 40 anos ou mais, Conceição explica que o interesse pelo curso de Pedagogia vem diminuindo. “Estamos precisando de gente boa para preparar as crianças. É desesperador observar alguns índices, como o analfabetismo funcional e o atraso que temos em matemática”, diz.

 

A complexa carreira do professor, com dificuldades na formação, estrutura de trabalho e remuneração, impõe limites para o aprimoramento do professor. Conceição também citou a violência em algumas escolas como um fator desestimulante.

 

“Escolhe o curso de Pedagogia quem entende que sua vocação é ensinar, o que restringe muito. Atualmente, a interpretação que se dá ao papel do educador está muito deteriorada.”

 

Segundo a professora, para a solução do problema, o Banco Mundial coloca algumas diretrizes, como a maior participação dos professores nas decisões das instituições, a maior adequação de remuneração e a formação para adequação às novas práticas, como a tecnologia e o empreendedorismo.

 

“Como inovar as práticas de trabalho? No meu entendimento, as mulheres são mais receptivas a essas inovações e a ambientes mais criativos. Precisamos assegurar nosso espaço, pois temos tanta competência quanto os homens para a sala de aula ou em qualquer outro nível”, afirma Conceição.

 

Para a especialista, se mulher está em uma profissão sacrificada, a tendência é a baixa autoestima. “O ciclo não se fecha. Com a professora infeliz, o aluno não se sente cidadão e a aluna não se sente empoderada. Mas se a mulher está feliz, ela vai ser um bom exemplo para a nova geração”.

 

 FONTE


Val Barreto¹ é professora, jornalista em Rondônia e consultora Educacional de cursos de especialização. Contato: (69) 993106942.

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