Por Érica Fraga – Folha deS.PAULO.
Nenhum estado brasileiro escapa
de um diagnóstico negativo que ajuda a explicar a baixa qualidade da educação no
país: estudantes que almejam se tornar professores têm desempenho acadêmico
pior do que a média dos demais futuros profissionais.
É o que revela um novo estudo
liderado por Ricardo Paes de Barros, economista-chefe do Instituto Ayrton Senna
(IAS) e professor do Insper. O trabalho busca identificar oportunidades para
melhorar a educação nas 27 unidades da federação, na esteira da mudança
demográfica que levará a uma brutal queda no número de alunos em idade escolar
no Brasil. A pesquisa aponta características do sistema educacional particulares
de cada estado do país, que podem variar significativamente.
Alguns têm problemas marcantes de
infraestrutura outros lidam com salas de aulas lotadas. Mas a deficiência
educacional dos candidatos a professores é um ponto comum a todas as unidades
da federação.
A conclusão de Barros e de sua
equipe é embasada pelos resultados de duas provas: o Enem (Exame Nacional do
Ensino Médio) e o Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes). O
primeiro é feito por aqueles que pretendem ingressar no ensino superior.
Os dados revelam que, em todos os
estados brasileiros, a nota de corte para ingressar em cursos de licenciaturas
— que preparam para a atividade docente em áreas como português, matemática e
história— é inferior à média registrada por todos os cursos universitários. No
Pará, estado onde os aspirantes ao magistério tiveram o melhor desempenho, a
pontuação mínima para a entrada nas licenciaturas foi 649,3, na média, entre
2014 e 2018.
No mesmo período, a nota de corte
para o conjunto dos cursos superiores foi 661,1. A distância de 11,8 pontos no
estado do Norte foi a menor verificada no país. Já a maior discrepância ocorreu
em Santa Catarina, onde o ingresso nas licenciaturas exigiu um mínimo de 606,3
pontos, enquanto a entrada na média de todas as carreiras teve 674,4 de nota de
corte. A diferença neste caso foi de 68,1 pontos.
No Brasil como um todo, as notas
mínimas de acesso à faculdade são, respectivamente, 613,1 para licenciaturas e
662,1 para o conjunto de todos os cursos universitários. “Esses dados mostram
que o perfil dos alunos que atraímos para o magistério se tornou um problema sério”,
diz Laura Machado, especialista em educação na cátedra do Instituto Ayrton
Senna no Insper.
Segundo a pesquisadora, que
participou do estudo, essa realidade é preocupante porque as evidências
empíricas indicam que a qualidade do professor é o fator que mais afeta a
aprendizagem do aluno.
“Quanto melhor for o professor, mais o aluno vai aprender.” A
pesquisa mostra que a mesma realidade do Enem tem se repetido no Enade, exame
feito pelos concluintes do ensino superior. Isso indica que os anos de formação
universitária não eliminam os déficits educacionais que os futuros docentes
brasileiros trazem da escola básica.
As notas dos concluintes de
pedagogia e das licenciaturas em 2017 foram menores do que os resultados da
média dos graduandos das 44 áreas testadas naquele ano em todos os estados
brasileiros.
No caso do Enade, a menor
diferença ocorreu em Roraima, onde, no entanto, ambas as notas
—respectivamente, 44 e 44,9 — são baixas em relação à média nacional de 48,4 e
51,4. Já a maior distância entre futuros professores e os concluintes do
conjunto das áreas examinadas foi registrada em Minas Gerais, no Sudeste, onde
a nota dos alunos de pedagogia e das licenciaturas foi 50,6 e a pontuação média
de todos os cursos foi 55.
Segundo especialistas, o perfil
de alunos que buscam o magistério é explicado pela baixa atratividade da
profissão docente no país. A análise dos pesquisadores do IAS e do Insper
indica que as causas para isso podem variar Há unidades da federação que lidam
com problemas mais severos de ambiente hostil dentro das escolas, caso de São
Paulo, onde os percentuais de professores que relatam ameaças e agressões por
parte dos alunos são altos em comparação à média nacional.
Em alguns, a remuneração desponta
como problema mais grave que no país como um todo. Em estados como São Paulo,
Rio Grande do Sul e Santa Catarina, os docentes da rede pública —que concentram
os maiores percentuais de matrículas da educação básica— ganham menos que os
professores de escolas particulares.
Essa realidade difere do ocorrido
na maior parte das unidades da federação, onde a relação de salários das redes
pública e privada é o inverso. O objetivo do estudo, que será apresentado na
quinta (5) em São Paulo para representantes das secretarias de Educação
estaduais, é apontar um diagnóstico detalhado para cada uma das 27 redes do
Brasil.
A partir disso, a pesquisa aponta
sete tópicos que podem ser alvo de decisões dos formuladores de políticas
públicas em prol da melhoria da qualidade da educação. O pano de fundo do trabalho
é a chamada transição demográfica que vive o Brasil, processo em que as taxas
de natalidade e mortalidade caem, resultando em uma população mais envelhecida.
Outra consequência é a queda no
número de crianças e jovens e, portanto, de alunos do ensino básico, que, por
sua vez levará a queda no número de professores necessários. Segundo projeções
do IAS, a quantidade de docentes no ensino básico deverá cair de 2,1 milhões em
2018 para 1,9 milhão em 2050.
Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO Via: Professor Vinicius Miguel.
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