CORREIO BRAZILIENSE: Renato Feder, atual secretário
de Educação do Paraná, é um dos nomes mais cotados para ser o terceiro ministro
da Educação do governo de Jair Bolsonaro (sem partido). Na manhã desta
terça-feira (23/06), o paulista se reuniu por cerca de 1 hora e meia com o
presidente da República, em Brasília. O encontro reforça a pressão que o
governo federal vem sofrendo para nomear um perfil mais técnico na tentativa de
amenizar a crise deixada pelo ex-ministro Abraham Weintraub. Em entrevista ao
Correio, Feder classificou o presidente como um "estadista" que está
"realmente preocupado em fazer uma nomeação ponderada".
O secretário do Paraná também enfatizou a intenção
de restabelecer o diálogo entre o MEC e as secretarias estaduais e municipais
de educação, reforçou a importância da autonomia das universidades federais e
colocou a votação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica
(Fundeb) no Congresso como uma das medidas essenciais para o início do trabalho
no cargo, caso seja escolhido. Avaliou ainda que, mesmo em meio à pandemia de
covid-19, o orçamento na educação não precisa aumentar.
Feder é mestre em
Economia pela Universidade de São Paulo (USP) e graduado em Administração pela
Fundação Getúlio Vargas (FGV). Como secretário de Educação do Paraná, aliou
educação e tecnologia e modernizou o ensino do estado. No enfrentamento à
pandemia, criou o Aula Paraná, um sistema de ensino à distância, que foi
implementado em apenas 15 dias e contempla aulas virtuais pelo Google
Classroom, mais de 930 mil downloads do aplicativo e três canais de televisão
aberta. O estado conta também com internet gratuita para 1,07 milhão de
estudantes e 100 mil profissionais da área da educação.
Na função, Feder também implementou o sistema de
Chamados Online, com a finalidade de reduzir a evasão escolar e envolver a
família com a educação dos jovens. A Prova Paraná, que afere a evolução da
aprendizagem de jovens de todo o estado — cerca de 1 milhão a cada dois meses
—, foi destaque nacional. Outro projeto implementado em sua gestão é o
currículo Paraná, que conta com aulas de programação de computadores,
empreendedorismo e matemática financeira.
O possível futuro ministro passou pela Educação
Básica até a Educação de jovens e adultos. No ensino superior, trabalhou na
Universidade Mackenzie à frente das aulas de Economia. O secretário também
conta com experiências internacionais na educação. Visitou e se aprofundou na
gestão de escolas e sistemas educacionais de países como Estados Unidos, China,
Japão, Israel, Coreia do Sul, Finlândia e Canadá. Ele também atuou na
Secretaria de Estado de São Paulo como assessor. E é proprietário da
Multilaser, onde transformou a empresa familiar em uma gigante brasileira do
setor de tecnologia com faturamento anual de R$ 3 bilhões e mais de quatro mil
funcionários.
Hoje o senhor se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro. Como foi o
encontro?
Foi uma conversa principalmente sobre educação. O
presidente Bolsonaro quer muito que o Brasil se torne uma potência em educação.
Ele visitou o Japão, Taiwan, Singapura, conversamos sobre educação nesses
países e quais os caminhos para o Brasil chegar lá. Eu contei um pouquinho do
que estamos fazendo no Paraná. Lá a educação está indo muito bem, mesmo durante
a quarentena. Estamos com aulas virtuais pela televisão e pelo celular, sempre
aulas gratuitas. Os alunos assistem às aulas na televisão e fazem as atividades
propostas no celular. E, pelo celular, ele também fala com professor dele, com
os colegas e posta as lições de casa. Está funcionando bem. Temos 1 milhão de
alunos lá e as aulas ocorrem normalmente todos os dias.
Bolsonaro se interessou pelo projeto?
O presidente ficou muito interessado e quis saber
se é possível fazer isso para o Brasil todo. Eu comentei que sim, é possível,
obviamente com muito diálogo com as secretarias municipais e estaduais. Sempre
dialogando e vendo a necessidade de cada secretaria. Porque o MEC praticamente
não tem alunos na educação básica. A grande maioria dos alunos está nas
secretarias municipais e estaduais, então o grande papel do MEC para nos
tornarmos um país desenvolvido em educação, que esteja no topo do ranking, é
construir junto a quem tem os alunos e os professores, ou seja, apoiar essas
secretarias.
Além do diálogo com as secretarias, quais as medidas consideradas
essenciais no primeiro momento da sua possível nomeação como ministro do MEC?
Está incluso um plano para tratar do ensino na pandemia?
Sim, o presidente se preocupou com isso.
Conversamos também sobre o Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da
Educação Básica), que é muito importante a aprovação no Congresso. É um fundo
em que os recursos federais vão para a educação pública, nos estados e
municípios. Outra preocupação do presidente é o retorno às aulas. De saber como
foi o retorno nos outros países, como ajudar os município e estados, qual o
protocolo a seguir que minimiza o risco de contaminação de toda a comunidade
escolar, o respeito ao momento correto de cada localidade do Brasil de
retornar. Tudo isso o presidente está preocupado e querendo ver como o ministério
pode ajudar as secretárias.
Fala-se que o governo do presidente Jair Bolsonaro sofre pressão
para buscar por um perfil mais técnico
para o comando do MEC. O convite para o senhor conversar com ele vai de
encontro a isso?
Não sei, não consigo adiantar. Senti que ele gostou
da conversa.
Existe alguma condição imposta pelo senhor para a sua entrada no
governo, como liberdade de tomada de decisões ou destinação de um auxílio para
a Educação devido à pandemia?
O presidente realmente é um estadista. Foi uma boa
conversa em que ele falou: 'Olha, Renato, gostei da conversa'. Mas ele não tem
pressa. Ele precisa tomar uma boa decisão, precisa ponderar, é uma decisão
importante. Acho que ele vai pensar bastante e tomar uma boa decisão. Confio
nisso e foi muito gostoso ver o presidente realmente preocupado em fazer uma
nomeação ponderada, seja pelo meu nome ou por outro, acho que ele está
preocupado em tomar uma boa decisão pensando na população e na educação
brasileira.
Em meio à pandemia, fala-se em um gasto maior das secretarias de
educação em relação à alimentação a uma possível ajuda com pacotes de dados de
internet para viabilizar o ensino remoto a estudantes da rede pública. Como o
governo deveria tratar essa questão?
No geral, o orçamento na educação, mesmo durante a
pandemia, não precisa aumentar. Porque existem economias, como o transporte
escolar e a limpeza da escola, que não precisaram ser feitos. Já a merenda é
focada nos estudantes que mais precisam. No Paraná, por exemplo, dos 1 milhão
de estudantes da rede pública, a merenda é distribuída para os 200 mil que mais
precisam. Sobre as novas tecnologias, elas não são caras. Para se montar uma
estrutura de tecnologia, a escala permite se fazer isso com um custo muito
econômico. Tem muitas ferramentas gratuitas que usamos da Google, da Microsoft,
então não precisa de um gasto grande. É óbvio que o MEC deve fazer, sendo
necessário, esse aporte neste momento de pandemia. Com certeza é papel do MEC
fazer esse investimento e o presidente entende que o recurso para a educação
sempre vai ser realizado respeitando o orçamento.
A inadimplência nas mensalidades das escolas particulares cresceu e
muitas instituições particulares estão decretando falência. Qual a perspectiva
que esse setor pode ter?
As escolas particulares têm de ter a liberdade de
escolher as suas aulas remotas. Foi isso que funcionou no Paraná. E também o
Conselho Nacional de Educação decidiu que as aulas à distância são válidas e
cada escola particular tem de achar a melhor solução virtual para seus alunos e
para a satisfação dos seus pais. No Paraná, tivemos um grande aumento de
matrículas na rede estadual. Os pais saíram da rede privada e foram à rede
pública, mas os relatos que temos é que não foi somente por uma questão
financeira, mas por causa da qualidade da educação pública também. São 9 mil
novos estudantes no Paraná matriculados na rede pública que não estavam no
começo da pandemia, majoritariamente pela qualidade da educação pública virtual.
Há expectativa de um auxílio financeiro para as escolas particulares?
Não existe uma conversa nesse sentido de auxílio às
instituições privadas. O foco maior é a educação pública, obviamente dando
liberdade para o mercado, para as escolas conseguirem dar o atendimento aos
pais que optarem pelas escolas particulares.
O ministro anterior fazia ataques recorrentes a universidades e
institutos federais. Qual a sua visão sobre o papel do MEC em relação a essas
instituições?
A visão é que o MEC deve apoiá-las. As
universidades têm a independência, que é muito importante. O papel das
universidades é formar bons arquitetos, bons engenheiros, bons pedagogos, bons
cientistas, isso em todas as profissões. O conteúdo precisa ser passado, esse é
o papel das universidades e ao MEC cabe o papel de auxiliar nisso. Ver o que
está dando certo e o que a universidade precisa para que ela sempre possa
melhorar, crescer e dar um aprendizado melhor para os jovens que estudam lá. O
MEC tem de construir com a universidade sempre e auxiliar no que ela entende
ser necessário para que o aprendizado seja melhor.
Com o legado deixado pelo ex-ministro Abraham Weintraub, quais os
desafios ao próximo ministro que comandará a pasta?
Eu prefiro sempre falar de futuro. O que me cabe é
falar de um possível futuro. O desafio do MEC é dialogar, construir com as
universidades e com as secretarias estaduais e municipais um bom suporte. O que
uma secretária ou uma universidade precisa? Obviamente, além da parte
financeira, é de uma ferramenta de tecnologia, de parcerias, de boas práticas
pedagógicas, de formação de professores? Por exemplo, o Brasil tem 150 mil
escolas públicas, então temos 150 mil diretores de escolas públicas. Que tipo
de apoio esses gestores precisam e que tipo de apoio técnico-pedagógico é
necessário? E fornecer isso. Esse é o grande desafio.
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