A
volta às aulas ainda é um assunto espinhoso no Brasil, já que o país concentra
um dos maiores números de casos de coronavírus no mundo. Há muito debate em
relação a esse tema, pois uma parte dos pais teme levar os filhos para a escola
e outra não tem com quem deixar as crianças, com o trabalho também voltando.
Em
algumas cidades brasileiras, as escolas particulares já iniciaram sua retomada
gradual, principalmente no ensino infantil. Segundo Ademar Batista Pereira,
professor e presidente da FENEP — Federação Nacional das Escolas Particulares —
com a abertura do comércio em alguns municípios, é essencial que as
instituições de ensino também sejam abertas. Segundo ele, as mães que trabalham
acabam tendo dificuldades de achar alguém para ficar com os filhos e deixam com
os avós, o que não é adequado.
Na
creche Mãe Coruja, em Porto Velho, Rondônia, as atividades foram retomadas no
dia 16 de maio. Segundo o proprietário da unidade, Ivanir Teixeira, um decreto
municipal permitiu a abertura, desde que fosse com um número pequeno de alunos,
em torno de 20%. Ivanir diz que mesmo com a autorização da prefeitura, os pais
ainda sentem receio de levar os pequenos para as aulas. Apenas, seis estudantes
voltaram. Antes da pandemia, a escola tinha 107 alunos.
NOVA
ROTINA
Para
voltar às aulas, a creche teve que se adaptar a sua nova realidade. "Nos
compramos mais 10 recipientes de álcool em gel e colocamos uma pia na entrada
para os alunos fazerem a higienização", diz Ivanir, acrescentando que os
custos com os materiais de proteção representam 10% das despesas do negócio
atualmente.
Logo,
ao chegar na entrada da escola, os pequenos já precisam se despedir dos pais,
pois eles não podem entrar mais no prédio. Quem caminha pela escola pode ter a
sensação que está em um ambiente hospitalar. Dá até para confundir os
professores com enfermeiros, já que eles vêm receber as crianças com máscara,
luvas, toca e até mesmo viseira, em alguns casos.
Segundo
Ivanir, um dos principais desafios é manter o distanciamento social. A creche
atende alunos de até 5 anos. E os pequenos gostam de abraçar e beijar os
amigos, principalmente depois de tanto tempo longe. Para evitar as
aglomerações, cada criança fica em um espaço, brincando. A ideia é distrair os
alunos para eles ficarem mais longe dos colegas. Após a brincadeira, todos os
brinquedos são higienizados. "Mesmo assim, estamos trabalhando ansiosos e
preocupados. Corremos o risco de ser contaminados e não sabemos quem pode se
sair bem ou não", diz o proprietário da escola.
Em
Sinop, Mato Grosso, a Escola Canadense Maple Bear também retomou suas
atividades em 4 de maio, por meio de decretos municipais. "O retorno dos
alunos de forma presencial não é obrigatório. Os pais, desde o início da
pandemia, podem optar por deixar as crianças permanecerem em casa, recebendo o
conteúdo para fazerem no sistema EAD", afirma Danicler Bavaresco, diretor
da instituição, em Sinop.
A
escola conta com 54 alunos de 1 a 6 anos. Segundo o diretor, na retomada,
voltaram 43 estudantes. Danicler ainda ressalta que, se a criança tem qualquer
sintoma gripal, ela não pode participar das aulas presenciais.
A
rotina dos alunos também mudou. Agora, eles precisam entrar de forma escalonada,
por turma, e, assim como na creche Mãe Coruja, os pais não podem entrar no
prédio. Para chegar à sala, há um "ritual" de cuidados preventivos.
As crianças precisam higienizar as mãos e desinfectar os calçados e mochilas.
Há também a medição de temperatura para verificar se o aluno está com febre. O
uso de máscara também é obrigatório para as crianças maiores de dois anos.
Em
relação ao distanciamento social, os estudantes precisam ficar 1,5 metro de
distância dos colegas. Para manter as crianças afastadas, o diretor da escola
explica que colocou mais auxiliares nas salas dos pequenos de 2 a 4 anos.
Assim, é um adulto para cada três crianças.
Danicler
diz que como ainda estamos vivendo um momento de pandemia, as atividades não
foram suspensas, mas sim adaptadas. Dessa forma, os brinquedos ou atividades
que são de contato foram substituídos, os parquinhos internos e externo são
utilizados, mas de forma limitada, apenas uma criança por brinquedo. "A
rotina de cada atividade foi alterada, exemplos: rodas de leitura e conversa
eram feitas com as crianças sentadas no chão e em círculos, sobre um tapete
grande coletivo, agora elas sentam em cadeiras posicionadas numa circunferência
que abrange quase que toda a sala. Antes, as mesas eram coletivas e os brinquedos
compartilhados, agora as carteiras e os brinquedos são individuais e
posicionados de forma que uma criança fique distante da outra", diz.
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Para
o diretor da escola, a retomada das atividades exigiu muita adaptação.
"Foi um mês de muito aprendizado, não só para nossas crianças, mas também
para os pais, professores e todos os envolvidos com a escola", diz.
Em
Mato Grosso, outro colégio também optou por abrir as suas portas. Localizado no
município de Sorriso, o Centro de Educação Básica São José decidiu voltar às
aulas gradualmente, já que atende em média 700 alunos, desde o berçário até o
terceiro ano do ensino médio.
No
dia 8 de junho, apenas ensino médio e o primeiro e segundo ano do Fundamental 1
voltaram. "No caso do ensino médio, os alunos mais velhos têm mais
autonomia para cumprir o plano de contingência e no fundamental I, as crianças
estavam em processo de alfabetização e estava sendo difícil fazer isso
remotamente", diz Emerson Castro Rosa, diretor pedagógico. Segundo ele,
até dia 22 de junho, todos os níveis de ensino já poderão voltar para a escola,
mas não é obrigatório.
Quantos
às iniciativas de segurança, a escola implantou as medidas de uso de máscara e
álcool em gel. Mas, também optou por procedimentos novos, como um tapete
umidificador para limpar os pés dos pequenos, fechamento da cantina (os alunos
levam lanches individuais) e desativação dos bebedouros.
AULA
REMOTA OU PRESENCIAL
Para
Emerson, um dos principais desafios para as escolas hoje em meio à pandemia é
conciliar as aulas remotas com as aulas presenciais. "Ainda temos apenas
50% dos nossos alunos de volta. Isso é muito pouco. Se eu tivesse que dar um
conselho para as escolas seria para que elas abrissem quando a maioria das
crianças se sentir segura para voltar", afirma.
De
acordo com o diretor, durante a pandemia, o colégio se planejou para dar aulas,
usando diversas plataformas para facilitar o aprendizado. Os professores também
foram treinados. No entanto, com a volta das aulas presenciais, os educadores
passaram a planejar aulas para serem dadas aos estudantes presencialmente, com
a participação dos alunos que estão em casa por vídeo. "As aulas deixaram
de ser remotas para serem transmitidas. E esse é um grande desafio a ser
superado para evitar a evasão", diz.
REVISTA CRESCER
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