EM.COM.BR - O Conselho Nacional de Educação (CNE) deve
aprovar nesta terça-feira (6) uma resolução que permite o ensino remoto nas
escolas públicas e particulares do país até 31 de dezembro de 2021. Dessa
forma, as redes de ensino podem organizar seus calendários, com reposições de aulas
perdidas e avaliações, não apenas até o fim deste ano. O documento, ao qual o
Estadão teve acesso, também recomenda que as escolas não deem faltas aos alunos
nesse período todo de pandemia.
Como em outras resoluções durante a pandemia, mais uma vez um documento do CNE também não recomenda a reprovação em 2020. É sugerido que se adotem "anos escolares contínuos", ou seja, junte-se a série em que o estudante está em 2020 com a próxima, em 2021. "O reordenamento curricular do que restar do ano letivo de 2020 e o do ano letivo seguinte pode ser reprogramado, aumentando-se os dias letivos e a carga horária do ano letivo de 2021 para cumprir, de modo contínuo, os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento previstos no ano letivo anterior", diz o documento.
"As consequências deste ano vão levar um tempo
para serem resolvidas nas escolas", diz a relatora da resolução e
conselheira do CNE, Maria Helena Guimarães de Castro, que já foi secretária
executiva do Ministério da Educação (MEC) nos governos Fernando Henrique
Cardoso e Michel Temer. "Mesmo que se imagine que haja vacina ano que vem,
as escolas precisam se readaptar, é o que todos os países do mundo estão
fazendo. É uma flexibilização que dá tranquilidade no replanejamento para
2021."
Algumas redes públicas já anunciaram que juntarão os
dois anos letivos, como forma de não penalizar estudantes que não puderam
acompanhar o ensino online. Uma delas é a rede estadual de São Paulo, que ontem
abriu matrículas para um novo 4.º ano do ensino médio para os alunos que
quiserem continuar estudando em 2021.
Mas, segundo o secretário da Educação, Rossieli
Soares, a reprovação não será proibida na rede. "Sabemos de estudantes que
não estão entregando atividades. Vamos dar todas as oportunidades para eles,
podem entregar mais para frente, mas o mínimo é necessário fazer", disse
ao
Continue sempre bem informado.
Em casos de falta de acesso online, ele explica, os
alunos têm os materiais impressos e podem devolver as lições dessa forma.
A flexibilização do calendário do CNE, no entanto, não
significa, segundo Maria Helena, uma indicação de que as aulas não precisam
voltar. Para ela, onde já houver decisão favorável da área de Saúde, elas devem
retornar com atividades presenciais. "A volta é muito importante, até para
as pessoas aprenderem a lidar com o medo, ter acolhimento, para que os
professores possam falar como estão se sentindo".
O secretário Rossieli também disse ontem que retornar,
cumprindo os protocolos, é "fundamental", citando casos de depressão
de adolescentes isolados. "Se for possível, envie seus filhos à escola,
com segurança, seja escola pública ou particular." Amanhã, apenas 100 das
mais de mil escolas estaduais da capital vão abrir, apesar de autorização para
atividades presenciais.
A Lei 14.040/2020 previu que o CNE deveria dar as
diretrizes para os estabelecimentos de ensino durante o "estado de
calamidade pública" causado pela pandemia da covid. Ao ser aprovada, será
a mais importante resolução nacional sobre o assunto, já que o MEC não se posicionou
oficialmente. Em entrevista ao Estadão, o ministro da Educação, Milton Ribeiro,
disse que a volta às aulas não era tema do governo federal.
O texto fala ainda que deve ser decisão dos pais ou
responsáveis enviar ou não os alunos para aulas presenciais e que as avaliações
são facultativas às escolas neste momento. Mas os que decidirem manter os
filhos em atividades remotas devem se comprometer em cumprir "atividades e
avaliações".
Sobre recomendar que não se dê faltas aos alunos nas
escolas, Maria Helena diz que é impossível checar a frequência durante o
período de aulas remotas, já que os estudantes muitas vezes recebem vídeos para
estudar no horário que escolherem. Para as escolas de educação infantil (0 a 5
anos) o documento libera também de cumprir a carga horária letiva de 800 horas,
como devem fazer este ano o ensino fundamental e médio. Mesmo assim, essas
horas podem ser preenchidas com atividades online.
O texto fala ainda que todos os recursos de tecnologia
podem ser empregados no ensino e cita inclusive as redes sociais, como
WhatsApp, Facebook, Instagram, "para estimular e orientar os estudos,
pesquisas e projetos".
Alunos ansiosos
Às vésperas da reabertura das escolas para atividades
extracurriculares, que ocorrerá na quarta-feira, pais e alunos estão ansiosos
para a retomada e preparados para as novas regras impostas por causa da
pandemia. Mesmo sabendo que será necessário manter o distanciamento, estudantes
estão contentes por poder matar a saudade dos colegas.
Pedro Maio Gamarra, de 8 anos, já sabe o que vai levar
no primeiro dia de aula: "O meu lanche, álcool em gel, máscara e uma
luva". Também avisa que vai reencontrar amigos. "A professora já
contou quem vai."
A mãe do garoto, a empresária Taciane de Almeida Maio
Gamarra, de 38 anos, diz que a família vinha se preparando para a volta às
aulas e o retorno vai trazer benefícios para Pedro e para sua irmã Giulia, de 4
anos.
"Meu mais velho está estressado, sem paciência.
Ele está ansioso para pegar o uniforme e está adorando esse retorno das
atividades presenciais. Vai ser bom também para eles se adaptarem para como vai
ser daqui para frente", diz a empresária.
Quem vai voltar à escola na próxima semana também já
conta os dias para retomar o contato com os colegas e professores, mesmo com as
regras de distanciamento, uso de máscara e do álcool em gel. O piloto de avião
Gustavo Miranda Leal, de 41 anos, já separou álcool em gel e máscaras
adicionais para colocar nas mochilas dos filhos Samuel, de 8 anos, Sarah e
Luísa, de 5 anos, e também intensificou as orientações.Continua depois da
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"Eles estão bem ansiosos, sentem falta do
convívio social. Até cobraram a gente, há uns 30 dias, sobre a volta às aulas.
O que observei é que o diálogo funcionou e a escola vai tomar as medidas de
proteção."
Os irmãos Sophia e Theo Larcher, de 17 e 12 anos,
respectivamente, também vão participar de atividades extracurriculares a partir
da semana que vem e não escondem a ansiedade. "Estou com as expectativas
altas, porque não aguento mais ficar em casa. Acho legal voltar por três horas
para a gente se ver um pouco." Os sentimentos de Theo se misturam ao falar
da retomada das atividades escolares. "Na parte emocional, é difícil
descrever. É uma mistura de saudade com ansiedade. Ao mesmo tempo em que estou
ansioso para ver meus amigos, estou com medo da dita cuja (a covid-19)."
Mãe dos estudantes, a professora Melissa Larcher, de
46 anos, relata que a volta está sendo mais difícil do que quando os filhos
migraram para o ensino remoto por causa da pandemia. "São muitas dúvidas.
Mas o que a gente espera, de verdade, é que eles tenham interação social.
Apesar de ter a insegurança sobre o componente de saúde - o meu filho é
asmático -, eu autorizei ele a voltar." Melissa aposta na informação e na
transparência. "Eles estão contentes, querem o prédio da escola, mas nós
os estamos preparando para não ser a mesma escola."
Professora do Instituto Singularidades e
psicopedagoga, Marta Gonçalves destaca a importância do diálogo e do
acolhimento no processo. "Não importa a idade, tem de conversar. Corremos
o risco de a criança ir para a escola e não querer retornar. Tem de acolher
essa decepção."
Ela diz que é comum sentir ansiedade na retomada, mas
que os pais devem observar e procurar ajudar, caso o sintoma se prolongue. As
informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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